
Minha Menopausa
Menopausa revolucionada

No auge da pandemia, me vi ajoelhada no banheiro perguntando a Deus o que estava acontecendo comigo. Isso vindo de uma mulher judia não religiosa. Claro que a pandemia por si só já era motivo suficiente para o desespero. No entanto, eu sabia que tinha alguma coisa errada. Percebi que meu sofrimento estava além da situação complicada que estávamos vivenciando.
Eu simplesmente não reconhecia meu próprio corpo, muito menos a minha mente. A sensação era de estar literalmente enlouquecendo. Pois bem, eu, psicóloga, sexóloga, não reconheci que, naquele momento, me encontrava no climatério, prestes a entrar na menopausa.
Se eu, uma profissional da saúde, que estuda a sexualidade, a saúde feminina, a influência dos hormônios há mais de 25 anos, não me dei conta, não é de se estranhar que a maioria das mulheres não perceba o momento desta mudança.
Para a grande maioria das mulheres, a menopausa começa um ano e um dia após a última menstruação. No entanto, o climatério, momento antes de entrar na menopausa propriamente dita, pode perdurar por anos. Inclusive, hoje sei que, naquele momento, que foi o pico do meu desespero, já me encontrava no climatério há pelo menos um ano.
A verdade é que a mulher não foi feita para durar tanto tempo. Na era vitoriana, a idade média da morte da mulher era de 59 anos. Sendo assim, a menopausa não era um problema, dificilmente a mulher chegava nessa idade. Mas como hoje, a medicina e a tecnologia nos fazem desafiar a expectativa de vida que tínhamos antigamente. A menopausa é um desafio muito mais corriqueiro hoje.
Precisamos levar em conta um dado importante: hoje uma mulher de 50 anos se encontra em plena fase produtiva. Apesar de muitos casos já terem se encontrado pessoal e profissionalmente, em outros, ainda está em evolução, se reinventando. Hoje, com os avanços tecnológicos da saúde, da estética, da qualidade de vida como um todo, ter 50 anos tem literalmente a cara da meia idade, se distanciando cada vez mais do retrato mental que temos das nossas avós nessa mesma idade.
Uma pesquisa recente da consultoria Warana indica que, até 2030, as mulheres nas fases de perimenopausa, menopausa e pós-menopausa vão corresponder a 25% da força de trabalho mundial.
Que cara terá a mulher de 2030? Certamente para vivenciar o seu potencial em plenitude, desfrutando de uma saúde equilibrada, teremos que exigir as soluções necessárias para usufruirmos da qualidade de vida necessária. Só assim poderemos continuar produzindo de forma positiva, sem adoecer.
A pergunta que fica é: com tantos avanços que a sociedade nos proporciona hoje, porque a menopausa ficou para trás? Porque, nós mulheres, ainda continuamos sofrendo caladas e envergonhadas ao falar sobre esta condição?
Na história não é raro vermos que somos nós, as mulheres, tão fundamentais para a evolução saudável do mundo, que são colocadas, ou ainda, se colocam, em um lugar de sacrifício. Minha pergunta para você é: quando vamos dar um basta na mentalidade que promove tamanha sabotagem?
É importante observar que as soluções já se encontram entre nós. A evolução da ciência e da medicina já contempla várias possibilidades que podem nos trazer grandes alívios. A contestação que fica é, porque não exigirmos estas respostas, não existe prioridade em resolvê-las?
A exemplo disso, um estudo feito nos Estados Unidos em 2002, da Women's Health Initiative (WHI), realizou uma grande pesquisa multimilionária e acabou sendo um retrocesso gigantesco. Na divulgação dos resultados, foi reportado que mulheres que faziam reposição hormonal aumentam os riscos de câncer de mama. O que sabemos hoje é que as informações colhidas na pesquisa foram extremamente mal analisadas e, consequentemente, mal interpretadas.
Desde então, a pesquisa foi revisada e analisada de forma correta e ainda foram realizadas outras pesquisas com a mesma temática. As novas conclusões vão na direção contrária. Podemos exemplificar este cenário avaliando o caso das mulheres que já sofreram uma histerectomia, passando a repor apenas o estrogênio. As chances destas desenvolver câncer de mama, diminui em 25%. Não somente acontece a diminuição do risco em desenvolver a doença, como também uma diminuição no risco do seu desenvolvimento.
A grande consequência negativa da pesquisa do WHI realizada em 2002, foi a ampla divulgação dos resultados, não somente no meio médico como nas grandes mídias. Além disso, desde então, estes resultados enganosos vêm sendo reafirmados constantemente. As consequências disso são a falta de atualização da comunidade médica e da sociedade como um todo.
Outro fato importante é o desequilíbrio hormonal vivido neste momento, possibilitando consequências dramáticas aumentando em 50% os riscos de doenças cardiovasculares, AVC, osteoporose, demência e Alzheimer. Detalhe, de 20-25% das mulheres que não sentem os sintomas desagradáveis que normalmente se experimentam neste momento, tem ainda mais risco de experimentar estes males.
Ou seja, o problema vai muito além dos sintomas incômodos como calores, falta de memória, dores de cabeça, diminuição de libido, etc. Estamos falando de questões seríssimas que podem comprometer a saúde de forma drástica e até causar a morte.
Para se ter uma ideia do efeito contra produtivo, ao negar as terapias de reposição, o tratamento reduz as chances de doenças vasculares em 50% a mais do que remédios para a pressão. Levando em conta que a maior causa de morte entre mulheres de 60-69 anos são as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, não é difícil concluir que existe um descaso gigantesco com a saúde da mulher nesta fase.
Sim, podemos contar com alguns avanços que vão além da reposição sintética, como a reposição bioidêntica, corpo idêntico e até alternativas naturais. É necessário cuidado e atenção por parte do profissional e do paciente. Cada caso é individual e único. No entanto, não é raro ouvir de um médico que é “assim mesmo”, dando a entender que simplesmente não há o que fazer.
É neste ponto que peço atenção, uma vez que essa resposta não condiz com a atitude que se tem para com diversos outros males que sofremos. No entanto, para que exista outra atitude ao lidar com a menopausa, nós mulheres precisamos ser assertivas e exigimos melhores e mais diversas opções, tano para aliviar os sintomas, muitas vezes extremamente debilitantes, como de efeito preventivo.
Precisamos ser ouvidas! A menopausa é uma das maiores violências contra o corpo feminino, porém mais violento ainda é o silêncio em torno dela.
Eu digo basta! E convido você a dizer basta junto comigo!
Tatiana Presser